quinta-feira, 13 de março de 2008

"dar vida ao tempo e nao tempo à vida"


Folheando uma capa do semestre passado - bioética, creio eu - surgiu-me essa expressão: "dar vida ao tempo e não tempo à vida": uma atitude que alguns profissionais de saúde deveriam adquirir.

Dessa mesma expressão, a qual se juntam as vivências, reparo na demora que há no amanhã: tanto tarda poder ajudar efectivamente alguém. Mais uma vez, demora tanto a ser realmente uma ajuda no verdadeiro sentido da palavra. Não que queira correr contra o tempo - eu tenho todo o tempo e mais algum; não que queira chegar mais cedo ao tão hoje, especialmente hoje, referido "centro de desemprego". Enfermagem não é só isso. Enquanto houver doentes, idosos e mesmo pessoas saudáveis, continuará a existir enfermagem, continuarão a ser precisos enfermeiros, ainda que não se apercebam de tal.

Mais uma vez me reporto às tão produtivas, ainda que aborrecidas e prolongadas, viagens de autocarro. É sempre engraçado de ver tanta gente idosa que recorre aos transportes públicos para os passeios, o que é duplamente compreensível. Como é do conhecimento de quem melhor me conheçe, um dos meus projectos, digamos assim, passa por uma especialização em Geriatria. Desde o ano passado, especificamente, que a temática do envelhecimento me despertou a atenção. E com o ingresso na faculdade, a percepção da realidade é outra, há mais contacto (ainda que não tanto quanto o pretendido).

Custa-me ver o desrespeito que há pelas pessoas idosas. Tanto fizeram por nós, e acabam por cair no esquecimento, na negligência. É revoltante. Ouvindo o relato de uma dessas pessoas, apercebi-me do sofrimento que enfrentam: pior que o não reconhecimento (e possivel agradecimento por todos os esforços feitos em prole de um futuro mais risonho dos descendentes), todo o trabalho, suor (ainda que não seja exigido algo em troca - embora fique sempre bem), de nada serviram. É horrivel ver alguém, ainda que com uma idade avançada, não ter fé alguma no futuro. É inexplicavél. Injusto. Desumano, simplesmente. É completamente desumano ser-se, para além de ingrato, manipulador, não permitir a assitência que qualquer pessoa, independentemente da idade, e nesta ainda mais, necessita. Um simples carinho, uma atenção, resolvem tanto! O terrorismo que é negar a uma pessoa a liberdade de que, de certa forma, ansiava no momento da reforma; o terrorismo que é, intecionalmente ou não, fazer por agravar a situação de alguém. O triste que é ver um idoso relata-lo. O triste que é ver alguém preferir tudo - incluindo a morte - à vida que têm com familiares. O triste que é alguém chorar na vossa frente, com certa vergonha do que fizeram, mesmo sabendo que sacrificaram e fizeram tudo o que podiam para que a vida de outro alguém fosse a melhor, achando ainda que a única coisa que falta fazerem é morrerem, para deixar de ser uma fardo! A morte como digna salvação de tudo: é deprimente.

Pior ainda, é revoltante nada poder fazer para ajudar quem se encontra nesta situação. Uma vez mais, sinto-me impotente. E isso entristece-me. Desta vez, o "só ter 19 anos", o "já estar no segundo ano", são factos frustrantes, deveras. O não ter poder para fazer melhor. O querer ajudar não ser suficiente. Estou num estado de tristeza indescritivel. Se ao menos isto pudesse aliviar por momentos o sofrimento desta pessoa a quem devemos tanto....
Desculpe....

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